Ontem tivemos duas novidades no mercado de e-books brasileiro: a esperada abertura da Amazon no Brasil e a venda de livros e filmes no Google Play. A chegada da Amazon foi um pouco decepcionante e deu a impressão que foi feita meio às pressas, pois o e-reader nem está disponível para venda ainda: só há uma lista de espera. O preço está 100 reais mais barato que o Kobo, mas os dois aparelhos têm funções, recursos e capacidades diferentes. Veja uma boa comparação dos dois aqui.
Bom, agora quem quer comprar e-books no Brasil tem as seguintes opções: Amazon (apenas para quem tem o Kindle, usar o app de leitura deles ou quiser fazer a conversão dos arquivos no Calibre), Apple (apenas para iPad, iPod, iPhone = os iTrecos), Cultura, Saraiva e outras livrarias (para quem tem Kobo, Nook, Positivo ou tablets, smartphones e iTrecos – menos Kindle), ou Google Play (para todos, menos quem tem Kindle). Claro que sempre dá para fazer a conversão dos arquivos no Calibre, mas quem quer apenas comprar o livro e ler não está a fim de ter mais esse trabalho.
Fiz um teste no Google Play: como ainda não tenho um reader, instalei o Adobe Digital Editions no PC (o software é necessário para comprar e-books na maioria das livrarias brasileiras) e atualizei meu computador com a ID da Adobe. Depois “comprei” um livro gratuito (Frankenstein). Baixei a versão em epub para o computador, depois adicionei o arquivo à biblioteca do Adobe. Posso ler o livro lá ou, se tiver um reader, é só ligá-lo à porta USB, esperar ele ser reconhecido pelo software e copiar o livro para lá. O processo está todo explicado na ajuda do Google Play.
No caso da Amazon, é possível ler os livros comprados lá tanto no Kindle quanto em PC, smartphones e tablets com Android ou iTrecos e Macs, sendo que é necessário instalar o aplicativo do Kindle para leitura. “Comprei” um livro gratuito da Amazon e ele já está bonitinho no aplicativo. Também converti no Calibre alguns livros que eu tinha no PC para o formato do Kindle e para pdf, e funcionam direitinho.
Em todo caso, a maioria dos livros anunciados são os best-sellers de sempre, ou seja, tudo o que vemos nas livrarias físicas. E quase pelos mesmos preços. Para falar a verdade, me dá muito tédio de ver o que tem nas livrarias. Sempre a mesma coisa, os livros mais vendidos, que nem sempre é o que eu quero ler. E a amiga Dolphin Di Luna concorda: “as grandes editoras ditam o que devemos ler, exatamente como a mídia faz. Somos manipulados para consumir informação e cultura que eles querem. Por isso adoro a Estante Virtual, lá encontro os livros que quero, dos assuntos que me interessam.“
A Estante Virtual é uma ótima opção para encontrar livros usados fora de catálogo, ou até lançamentos não tão recentes a preços mais baixos que as livrarias. E para quem lê em inglês, há o The Book Depository, com um catálogo imenso e bons preços.
Mas voltando aos e-books: todas essas novidades indicam que o Brasil está entrando de vez na era dos livros digitais. Livros bem formatados (e claro, com bom conteúdo) podem ser tão agradáveis de ler quanto as versões impressas; tudo é questão de acostumar com o novo formato. Livros em epub ou mobi adaptam o texto ao formato da tela, sem a necessidade de barras de rolagem. Somados à tela e-ink, a leitura não deixa nada a dever ao livro de papel no quesito conforto visual. Os defensores dos tablets ainda sofrem com a tela de LCD, brilhante e cansativa para os olhos depois de horas, mas se você quer um aparelho que sirva para ver filmes e navegar na internet, além de ler, os tablets são uma boa ideia.
Mas o principal empecilho para a popularização dos e-books e readers no Brasil é o preço, e boa parte dele é imposto. O Projeto de lei PL-4534-2012 está empacado no Congresso, que não parece muito interessado em isentar de impostos os livros digitais e dispositivos exclusivos para leitura. Se ficasse isento dos 60% de impostos de importação, o Kobo poderia ser vendido aqui bem próximo dos 99 euros cobrados na Europa, o que daria aproximadamente R$ 260,00. Um bom preço.
Enquanto isso, as livrarias estão com água pelas canelas e preocupadas em perder a posição confortável no mercado, e pediram regras para regulamentar o mercado de e-books no Brasil. Claro, regras que beneficiem a elas e não ao leitor. A concorrência é saudável exatamente por isso: a falta de concorrência e a acomodação cria dinossauros preguiçosos, que precisam mudar para se adaptar ao novo mercado. Se temos bons produtos eletrônicos hoje no Brasil, foi por causa da abertura de mercado há algumas décadas. Quem não se adaptou, dançou. E as livrarias e editoras precisam aprender a lição e deixar a ganância e o comodismo de lado.
As novas opções para comprar e-books no Brasil também abrem espaço para os autores independentes. Além da publicação por demanda em sites como Bookess e Clube dos Autores, escritores brasileiros também podem vender seus e-books na Apple, Google e Amazon. Mas é bom estudar as condições e restrições para ver o que compensa mais e limita menos.
Os preços dos livros e dos readers ainda estão muito altos e a corrida para aproveitar as vendas de Natal aparentemente foi só isso: aproveitar as vendas de Natal. O consumidor ainda espera a hora em que será tratado com respeito e poderá comprar livros digitais e readers por preços justos e com mais opções.
Para saber mais:
– Até que enfim, Amazon estreia no Brasil – mas uma estreia chocha
– Amazon pode trazer Kindle Fire ao Brasil
– Rival do Amazon Kindle, Kobo Touch é boa opção para ler e-books brasileiros
– Amazon abre correndo sua loja virtual no Brasil, sem Kindle
– O livro em “formato líquido”, agora no Brasil
– Projeto PL-4534-2012 recebe duas propostas de emenda
– O tablet tem inveja do e-reader
– Autores brasileiros podem vender e-books diretamente na Amazon
– Usuários da Amazon e a transferência de conta
– Livrarias querem regulamentação para se protegerem da ameaça dos e-books